13 de abril de 2016

A gaveta escondida #3: "A SEGUNDA PARTE"

Avancemos para o ano de 1996. Tenho 24 anos e a intuição de que… ok, talvez um dia venha a escrever bem. Jovem adulta, releio os contos que escrevi antes, durante a adolescência; acho-os imperfeitos, empolados, pretensiosos; por outro lado, às vezes, sinto que já está qualquer coisa lá. E abalanço-me para a escrita deste “A segunda parte”, homenagem secreta a um amigo tímido, e que assinala, pelo menos para mim, o início da segunda fase da minha carreira como contista… whatever that is.

A SEGUNDA PARTE

Ela entrou, viu-o logo, e sorriu. Dizer que muitos olhos se pousaram sobre ela à medida que atravessou os poucos metros desde a entrada até ao balcão onde ele estava sentado não era exagero. Talvez não fosse bonita, mas tinha um sorriso deslumbrante, ou milhares de sorrisos deslumbrantes, que trazia acertadamente conforme a ocasião, sem parecer fazê-lo de forma calculada. Aquele sorriso, por exemplo, ele já o vira muitas vezes. Era o sorriso de depois de entrar nos lugares públicos e o ver, um sorriso macio, silencioso, que lhe rasgava os olhos esverdeados e o arrepiava porque o fazia sentir ao mesmo tempo muitas coisas agradáveis. Sentia que ela era bonita, sentia que aquele sorriso era só dele, sentia que por causa daquele sorriso muitos olhos se pousavam sobre ela e depois sobre ele, seu destinatário evidente, com inveja. Era como se com ela entrasse no restaurante uma onda de afecto, que dissipasse subitamente o desconforto dos dias molhados de inverno, limpasse do chão de tijoleira as marcas de lama deixadas pelas botas e pelos guarda-chuvas ensopados, e o aquecesse por dentro como o leite quase a ferver que a mãe lhe trazia à cama quando ele era pequeno. E esse conforto aumentava o encanto dos dois beijos na face com que ela o cumprimentava, porque a intimidade deles ainda não tinha passado disso.
- Esperaste muito?
- Não, cheguei agora mesmo.
- Desculpa. Demorámos a fechar.
Pousou a pasta, levemente afogueada, sentou-se no banco que ele reservara com a gabardina dobrada, desembaraçou-se do casaco e arrumou-o sobre os joelhos, com o forro virado para o lado de fora. Era um daqueles casacos num material moderno, a imitar pele, ou melhor dizendo, sem imitar pele, comprido e preto. Era parecido com muitos casacos que as mulheres com quem se cruzava na rua usavam naquele inverno, as suas colegas, a sua irmã. Até a sua mãe tinha um casaco parecido com aquele, que quase nunca usava, porque quase nunca saía de casa. Mas o dela parecia-lhe diferente de todos os outros, no modo como lhe realçava o rosto, os olhos, o cabelo, que ela usava sobre os ombros ou um pouco acima dos ombros e tinha um tom arruivado. Nessa tarde, em que o ar embaciado do restaurante contrastava com o frio que fazia lá fora e ela o despiu com naturalidade, dois ou três pares de olhos voltaram a pousar-se no seu corpo quando o gesto decidido revelou a curva dos seios. Reconheceu num instante a camisola vermelha de decote subido que ela trazia da primeira vez em que se tinham visto, e por cima qualquer coisa escura, um lenço ou uma echarpe. Num segundo, percebeu que estavam num daqueles dias em que ele a achava quase insuportavelmente bela, e desviou o olhar. Percorreu os pratos alinhados sobre o balcão de fórmica, sobre os quais se debruçava uma fila de homens e mulheres quase todos jovens ou ainda novos, como eles a meio de um dia de trabalho, trocando palavras quase sem se olharem entre duas garfadas ou o despejar do copo.
- Hoje a carne não me parece má.
Achou a frase ridícula, mesmo antes de a concluir, mas ela pareceu não reparar.
- Sim? Pode ser.
A resposta foi para ele e para o empregado, que interpretou a frase dela e o silêncio dele e pediu dois pratos para dentro, enquanto limpava com um pano húmido a área de balcão à frente deles e lhes punha debaixo dos braços dois toalhetes de papel. Levantaram obedientemente os cotovelos e depois olharam-se e inclinaram-se um sobre o outro, como costumavam fazer antes de começarem a falar, ele tentando disfarçar o nervosismo com frases vagas e de pouco sentido, então, como estás, que tens feito hoje, ela sorridente, outro sorriso, discreto, acolhedor, cheiroso (hipálage, ele é que de tão perto conseguia sentir o perfume dela), o sorriso que ele imaginava que ela pudesse ter se estivesse sentada à lareira com um copo de vinho na mão, um sorriso que significava que ou ela não estava nervosa ou o seu sorriso servia para apagar todos os traços de nervosismo, pelo menos aos olhos dele. Muito daquilo explicava por que se sentavam ao balcão sempre que iam almoçar naquele restaurante onde se tinham encontrado por acaso da primeira vez, e não a uma mesa. Comer ao balcão era mais rápido, claro, e ambos tinham pressa, mas ele queria acreditar que essa não era a única razão. Era como um gesto de intimidade, ou um prenúncio de intimidade, ou pelo menos a garantia de que ela não estava ali a almoçar com ele apenas como podia estar a almoçar com qualquer outra pessoa, só para ter companhia ou só porque era inevitável. Era como um ritual, a repetição da primeira vez.
Dessa vez ele não a vira entrar, curvado que estaria sobre o prato, nem ela certamente trazia o sorriso. Ouvira uma voz feminina perguntar, está ocupado (o banco ao lado), ele dissera não, por favor, enquanto instintivamente se encolhia no seu lugar para dar espaço e se voltava para a voz, e então vira-a, enquanto ela dizia obrigada, com licença, e lhe sorria com o primeiro sorriso, discreto mas firme, e ele que tinha ido comer ali por acaso, só porque tivera uma discussão com um dos colegas e não lhe apetecia ir à cantina onde eles todos estavam, pensou, que sorte. Mas não tinha sido amor à primeira vista. Ela não olhara para ele nos primeiros cinco minutos e ele, que não tinha muita iniciativa, limitara-se a comer. Foi ela quem se voltou para o lado dele, tão de repente que ele pensou que lhe ia dizer qualquer coisa, mas só para reagir a algo que ouvira na televisão, que estava sempre ligada, pousada numa prateleira ao lado dele. Viu-a de perfil, os olhos pareceram-lhe enormes, desmesuradamente erguidos, mas quando olhou para o ecrã a ver a notícia que lhe tinha chamado a atenção, foi como se apanhasse com um aguaceiro. Não era política, não era uma imagem de guerra, não era uma entrevista. Era um jogo de futebol.
Incrível. Incrível para ele, claro, porque todos, clientes e empregados, ficaram especados a olhar para o mesmo, e riam, e abanavam a cabeça, e exclamavam em voz alta, olhando uns para os outros e para os lados, como se quisessem partilhar à força o que diziam ou medir o efeito das suas palavras, e ouviam-se insultos cruzados, palermas, estúpidos, otários. O homem que comia à sua esquerda, e que ele não conhecia mais intimamente do que qualquer outro cliente, virou-se para ele a abanar a cabeça e a palitar os dentes, e disse-lhe:
- Palerma. Não tem futuro.
Demorou uns instantes a perceber que o comentário não era sobre ele próprio nem sobre o seu futuro, mais ou menos quando o vizinho continuou:
- Este gajo não aguenta nem mais um jogo. Se eles empatarem ou perderem no sábado…
E um gesto indicativo completou a profecia. Ele balbuciou qualquer coisa, enquanto o rosto do vizinho regressava ao televisor, onde passavam as mesmas imagens, sim, até ele, para quem todas as imagens de um jogo de futebol pareciam iguais, podia ver que eram rigorosamente as mesmas, repetidas à exaustão, de dois lances em que dois jogadores da mesma equipa falhavam golos, escandalosamente, segundo se dizia, e como o tom exaltado do locutor confirmava, e depois uma cena onde um homenzinho de bigode, vestido de fato e gravata, se retirava encolhido para debaixo de um túnel, enquanto os espectadores furiosos se concentravam em arrancar as redes que isolavam o relvado e em projectar-lhe objectos estranhos, que deviam atingi-lo menos que os insultos que cuspiam pelas goelas esforçadas. Sem querer, sentiu um nó na garganta, como se se sentisse subitamente solidário para com aquela criatura. O apresentador passou à notícia seguinte, e outras seguiram-se, mas no restaurante ficaram todos a discutir o jogo, e mesmo ele, tão obstinadamente alheio ao mundo do futebol, percebia contra vontade que alguns eram a favor mas quase todos contra aquele homenzinho de bigode que ele vira encolhido como um bicho indefeso. Olhou para lado oposto, e o olhar cruzou-se com o dela, que só então descia do ecrã, com um brilho divertido, levemente irónico, e um sorriso, mais bonito que o primeiro, entre o tímido e o cúmplice, sublinhado com um ligeiro encolher de ombros. Não percebeu se ela encolhia os ombros com desprezo pela situação, ou pelo homenzinho de bigode que todos pareciam achar desprezível, ou simplesmente pelo jogo, hipótese que ele preferiria, mas aquele sorriso restituiu-o à sua primeira impressão, a de que estava sentado ao lado de uma mulher linda, e ajudou a diluir-lhe a irritação. Ele, que detestava futebol e pessoas que gostavam de futebol, e futebolistas, e árbitros, e jornalistas, e programas desportivos. E foi ela que resolveu o dilema, a seu próprio favor, evidentemente, quando disse, quase sem olhar para ele, mas num tom de voz que lhe era evidentemente dirigido:
- Parece que é a notícia mais importante do mundo.
- É mesmo. Uns segundos para o Médio Oriente, outros para a situação económica, e o resto é preenchido com a tribo do futebol.
Disse tudo seguido, sem pensar. Só quando acabou é que se deu conta que nunca ousava falar assim com desconhecidos, muito menos com uma mulher, ainda que a frase fosse sua velha conhecida. Costumava repeti-la, com ligeiras variantes, sempre que, com mais ou menos humor, queria exprimir o seu ódio pelo futebol e pelo que achava que o futebol representava.
- Ah, o Desmond Morris.
Olharam-se e sorriram, ele encantado. Sempre que encontrava alguém que não gostava de futebol, sentia-se reconfortado. Ela pareceu-lhe uma daquelas pessoas que olhavam o jogo com ironia, com sarcasmo. Era uma posição diferente da sua, que simplesmente fechava os olhos à realidade, recusando-se a vê-lo, a ouvi-lo, a comentá-lo. Mas eram posições convergentes. E sem saber como, isso bastou para começarem a falar, primeiro sobre Desmond Morris e os outros livros, depois sobre outros sociólogos, depois ainda sobre as marcas da sociedade actual.
No fim do almoço, ele sabia que ela trabalhava numa livraria, gostava de ler, estava a tirar um curso de bibliotecária. Ela espantou-se quando ele disse que era poeta nas horas em que não geria as economias alheias, gostava de Cesário e de Pessanha e de todos os poetas de quem ela gostava. Ao fim daquela hora, ele sabia que ela tinha gostado de estar a falar com ele, pois também ela não tinha sentido o tempo passar, e só muito depois do café olharam para o relógio e fizeram a mesma expressão aflita, e pagaram. A luz aguda do sol tímido caiu de repente sobre as feições dela, como se as revelasse, e ele pensou numa frase que era quase textualmente um dos seus versos, ela é mais bonita no Inverno. Ela apontou rapidamente na direcção da livraria em que trabalhava, ele fez o mesmo com a agência bancária, apertaram as mãos, e ela disse:
- Até qualquer dia.
E claro, não fora um dia qualquer, fora o dia seguinte, e ele nunca mais comeu com os colegas. Assim que pôde, saiu quase a correr para o almoço, sem dar explicações aos colegas, com quem aliás nunca conversava muito, entrou no restaurante e esperou por ela, ansioso por saber se teria o hábito de comer ali ou não. Ela chegou, olhou para ele, não sorriu com os lábios mas levantou os olhos de forma interrogativa e sorridente, como quem pergunta, então o lugar aí está vago, e ele acenou que sim, fingindo retirar casualmente a gabardine de cima do banco ao lado, quando a instalara ali para o guardar.
- Olá.
- Ora viva.
- Está à espera de alguém?
- Não, como sozinho, isto é, como consigo.
E ela sorrira, e como por milagre as frases dele fluíram tão naturais e soltas como aquele sorriso, e o resto fora uma sucessão de almoços, há muitas semanas. Nunca se encontravam fora daquela hora mágica em que almoçavam. Despediam-se lá fora, nas primeiras vezes com um aperto de mão, depois com dois beijos como amigos, e ele ficava discretamente a vê-la afastar-se, estranhamente frágil, parecendo mais pequena no meio da confusão da gente, do trânsito, e do cinzento dos prédios.
E os fins de semana passavam devagar, irritantes. Os dias vazios, com aguaceiros fortes, filmes alugados, como já quase ninguém fazia, pizza que encomendava ao almoço e à tarde andava aos bocados pelos sofás, poemas começados em folhas soltas, a mãe a telefonar-lhe, filho, então não vieste cá hoje, o teu pai queria ver-te, há tanto tempo que não vens cá, e ele a desculpar-se, sabendo que se sentia culpado por não ver os pais há tanto tempo mas que não estaria mais feliz se tivesse ido, e o futebol. À noite, quando queria ver um bom filme, eram as transmissões em directo, ou os programas de antecipação. Depois as reportagens, os programas interactivos, os concursos, os telejornais. Apetecia-lhe sair, mas era um inverno desolado por todos os lados, lá fora, onde o ruído dos autocarros a fazerem as curvas trazia o som de poças de lama a serem calcadas e ocasionalmente o protesto de alguém que ficava encharcado, em casa, onde ele tinha sempre frio e dependia dum pequeno aquecedor eléctrico para não morrer de desânimo. E só ao domingo à noite, quando o fim de semana estava quase acabado, deitado na cama com um saco de água quente ao lado, conseguia pegar no livro da Clepsidra e ler os versos que o punham mais perto dela, porque ela gostava deles

Meus olhos apagados,
Vede a água cair.
Das beiras dos telhados,
Cair, sempre cair.

E os almoços sucederam-se, tantos quantos os dias da semana. Era uma hora, ou duas, que arrancavam aos seus horários apertados e prolongavam como podiam sem dar a entender um ao outro que as queriam prolongar, como quando ele a surpreendeu na livraria e ela lhe mostrou as novidades das estantes (e ele achou-a bonita, mas uma outra mulher, sem o casaco, sem o cachecol, perfeitamente segura naquele espaço que ele não conhecia e que não era o espaço dos dois). Ou como quando ela o foi esperar à porta da agência num dia em que saiu mais cedo, discretamente encostada à montra que prometia a melhor taxa de mercado no crédito à habitação, de modo que quando ele e os colegas saíram viram-na todos a sorrir para ele, e ele acenou-lhe e caminhou para ela, fingindo displicência nos passos, num júbilo secreto porque era a primeira vez que se sentia superior aos seus colegas de trabalho. Mas quase sempre era só aquela hora, naquele restaurante de gente apressada, mal decorado, de comidas e repetitivas, que talvez por isso se chamavam combinados, com as cabeças quase encostadas, para que se conseguissem sentir apesar do cheiro a fritos, das vozes misturadas, do ruído de fundo da televisão. Uma ou duas vezes foram comer a outros sítios, mas era como desfazer o ritual. Perdiam tempo a escolher a mesa ou a esperar pela mesa, hesitavam ao pedir o prato. Ao seu lado vinha sentar-se gente diferente da do costume, que, só por ser estranha, os distraía. Habituou-se a esperá-la no mesmo sítio e nos mesmos dias, a vê-la chegar com um sorriso que era só dele, que começava nos olhos e acabava nos lábios.
Até àquela tarde igual às outras, em que a meio do almoço o mundo inteiro pareceu ficar suspenso de uma notícia. De repente, houve alguma coisa na televisão que rompeu o laço que os prendia, e os olhos dela, verdes e imensos, saíram dos dele, subiram, ficaram presos, e os dele seguiram-nos.
Era num campo de futebol. Vinte ou trinta jogadores, todos em calções apesar da chuva miudinha e fria que era a mesma para toda a gente naquele dia de inverno, saltavam e esbracejavam ritmadamente sob o olhar atento de dois ou três sujeitos, talvez treinadores. De repente, a imagem de fundo tornou-se um pormenor. No primeiro plano, um rapaz esbelto, moreno, com um daqueles corpos e rostos estupidamente perfeitos, debruçava-se sobre a perna direita, enquanto dois homens de maleta, médicos ou coisa do género, lhe examinavam o joelho. Era um rapaz bonito e o realizador devia ser realizadora, porque a certa altura o ecrã ficou cheio com a cara dele, os olhos castanhos enormes, a barba por fazer, a boca carnuda entreaberta. Não era preciso ser gay nem particularmente sensível para perceber que aquele rapaz devia ser muito atraente. Olhou para ela, absorta. No ecrã ainda estava ele, irritantemente bonito, na expressão de desolação ou de dor com que acompanhava o que os médicos lhe diziam. E ela olhava-o, com os olhos enormes erguidos para ele, as pestanas suspensas. Teve ciúmes. E sentiu-se injusto. Era um instinto, era só um olhar. Nem sequer era um olhar como os que ela lhe dava a ele, quando ele lhe falava de alguma coisa importante, do seu trabalho no banco de que dependia para ser independente e poder sonhar em começar a publicar livros, das suas poesias que um dia lhe oferecera e ela comentara no dia seguinte, muito entusiasmada, das suas desavenças com o pai e das queixas da mãe (embora ele procurasse sempre fugir a esse assunto). Não era um olhar como quando ela o ouvia e os olhos dela se afogavam nos dele, meigos, quase transparentes, até que ele se perdia e sorriam ambos. Suspirou imperceptivelmente e voltou-se para ela, ao mesmo tempo que ela se voltou para ele, e então o mundo tremeu quando ela disse de uma vez só:
- Coitado. Vai estar uns meses parado. Quem é que pode ir para o lugar dele? Aquele brasileiro? Achas?
E antes mesmo que ele pudesse duvidar do que ouvira e esperar um milagre, podia ter ouvido mal, podia ter sido outra pessoa a falar, podia ter sonhado, ela prosseguiu, naturalmente, enquanto cortava um bocadinho de pão:
- É verdade. Nunca me disseste qual é a tua equipa… Sim, de que clube és?
E ele não arranjou mais nada para dizer:
- Nenhuma. Não gosto de futebol.
- Não? A sério? Porquê?
Eram perguntas que ele conhecia muito bem. Ouvira-as centenas de vezes ao longo dos seu trinta e cinco anos de vida, quase sempre seguidas, as três, por essa ordem. Ela dissera-as de forma mais gentil, natural, como eram geralmente naturais os seus gestos e desafectadas as suas reacções, mas aquelas palavras magoaram-no, como se a afastassem dele e a aproximassem daquele mundo de gente que lhe passara pela vida toda com as mesmas perguntas:
Não? A sério? Porquê?
A primeira de surpresa, a segunda de dúvida, a terceira, a pior, a que doía mais, que era realmente uma pergunta e obrigava-o a justificar uma parte de si. Lembrou-se das cenas no trabalho, quando os colegas se envolviam numa daquelas discussões sobre foras de jogo de que ele forçosamente se ausentava, dobrado sobre o jornal que já lera ou concentrado a mexer a chávena de café, esperando que não o notassem. Lembrou-se, muito tempo antes, de um miúdo tímido a descalçar as sapatilhas no balneário, que não sabia falar de futebol e muito menos jogar futebol, e quando o professor de ginástica o obrigava a entrar em campo era insultado pelos colegas da sua equipa e ridicularizado pelos adversários. Outras recordações mais fundas doíam-lhe, sem que quisesse chegar-lhes. Mas quando por causa do futebol tinha de sentir o que o separava dos outros, a garganta doía-lhe com uma dor que era sempre a mesma e vinha de muito longe.
- O que foi, dói-te alguma coisa?
Doía. Sentia a garganta apertada como se o estrangulassem, como se àquelas recordações se juntassem outras que não tinham nada a ver com o futebol, mas era como se fossem suas aliadas (a vez em que reprovara no exame de condução, a primeira namorada que o deixara), sentia os olhos arderem por conter lágrimas. Mentiu:
- Não é nada. Acho que a maionese me está a fazer mal.
Ela inclinou o prato.
- Come as minhas batatas que eu como a tua salada… A sério, não me importo…
E insistia, afagando-lhe a mão como nunca fizera, com uma simpatia que o teria feito suspirar de felicidade um minuto antes.
À noite não escreveu. Sentia-se vazio de ideias. Era como se o frio (o aquecedor que ele cobardemente costumava arrastar atrás de si do quarto para a sala e da sala para o quarto como um pequeno cão estava avariado) lhe tolhesse o pensamento e os dedos. Era sexta-feira. Não telefonou à mãe. Sabia que esse seria o décimo fim de semana sem ir a casa dos pais, quase três meses sem os ver. Atirou com o caderno para o lado e sentou-se no sofá. Sentia uma pulsão dentro dele, como um desejo de veneno. Ligou a televisão. Procurou um programa sobre futebol. Não foi difícil. Apagou o som, para fugir àquelas frases absurdas sobre realidades de que nada queria saber, metáforas desperdiçadas que o faziam sentir-se mal, trincos, líberos, foras-de-jogo, jogadores amarelados, miolo, moldura, e concentrou-se em observar os jogadores, para ver se seriam todos como aquele rapaz moreno. Desenganou-se. A maioria eram certamente rapazes bem feitos, mas andavam longe da perfeição. Muitos eram baixos, carregavam demasiadas tatuagens ou tinham os joelhos deformados. As caras, então. Narizes compridos, orelhas de fora, dentes estragados, brincos de mau gosto, penteados estranhos com travessões e fitas como as meninas dos colégios. Hábitos sórdidos, como gesticular e pronunciar palavrões sempre que eram contrariados pelo árbitro, ou projetar expectoração sobre o relvado, gestos supersticiosos que envolviam sinais da cruz, beijos na aliança, coreografias estranhas depois do golo. Conhecia aquilo tudo. Eram repetições dos rituais tão bem descritos naquele livro da Tribo do Futebol que o pusera a falar com ela pela primeira vez. Havia meia dúzia deles parecidos com o rapaz moreno ou até mais bonitos. Mas, se a amostra era representativa, pareciam raros. E depois, o que é que ela tinha em comum com aquela fauna? Ela, que tinha os gestos naturais e certos, que saía do restaurante tão limpa como tinha chegado, parecendo que o perfume dos seus cabelos era imune ao cheiro a fritos e que os seus dedos nunca tocavam nos molhos de gordura que escorriam das bordas do prato, para depois atravessar a cidade, sempre bonita debaixo dos aguaceiros, apesar do fumo dos escapes que ficava mais pesado sob a chuva, dos buracos no passeio e das poças de lama. Mas o que ela dissera e o modo como o dissera deixavam bem claro que ela gostava de futebol. Por que seria, por que seria. E enquanto repetia esta pergunta e batia com os pés gelados no soalho, por nervoso ou para se aquecer, era como se ela se distanciasse dele, era como a repetição dos fins de almoço, quando ele se virava para a ver desaparecer no meio do cinzento, pequeno vulto amado, recortado nitidamente no frio da cidade.

Corolas, que floristes
Ao sol do inverno, avaro,
Tão glácido e tão claro
Por estas manhãs tristes.

- É o jogo. A beleza do jogo. As emoções…
Foi o que ela lhe respondeu naturalmente, quando ele arranjou coragem para lhe perguntar, com o tom mais neutro que pôde arrancar à garganta tensa:
- É verdade? Que história é essa entre ti e o futebol? É raro encontrar uma mulher que goste.
A última frase fora arranjada à pressa, para disfarçar. E ela completou:
- Olha que não, não são tão raras como isso, as mulheres que gostam de futebol. Porquê?
Não se podia dizer que ele não contasse com aquele contra-ataque. Estavam parados no centro da rotunda onde normalmente se despediam, desde o dia em que ele começara a acompanhá-la quase até à livraria só para aproveitar a presença dela mais uns instantes.
- Por nada. Achei engraçado. É que eu não aprecio mesmo nada e achei engraçado que, com tantas coisas que temos em comum, tivéssemos esta a separar-nos.
A resposta fora preparada. Pretendia soar displicente, casual, salvaguardando a liberdade dela, sublinhando discretamente o quanto estavam unidos, desvalorizando o que os separava, insinuando subtilmente que essa pequena diferença era para ele um factor de perturbação. Ela pareceu entender tudo, menos a última parte. Estavam frente a frente e ela brincava com a ponta do guarda-chuva no mosaico do passeio. Encolheu os ombros:
- Bem, tinha de haver alguma coisa. É pena não gostares de futebol, podíamos ir ver um jogo este domingo. Sendo assim, é melhor irmos ver um filme.
O sorriso dela era diferente de todos os sorrisos que ele já lhe vira, mas era como se todos viessem embrulhados nele, para o tornarem mais forte. Depois que os aguaceiros tinham passado fazia um vento frio, que lhes desfraldava as pontas dos casacos e lhes punha os cabelos em rebuliço. Era um meio sorriso, suavemente malicioso, com cabelos à mistura nos cantos da boca. Ela riu-se. Ele riu menos, mais emocionado que embaraçado, subitamente liberto da angústia que o oprimira, sentindo-se ridículo. Ridículo por ter dado importância àquele assunto, porque sentia que devia ter antecipado aquele passo que ela tão elegantemente dera, soprando aquela sugestão que era como um aroma que iria daí em diante envolvê-los a ambos. Mas era um ridículo diferente. Não era o ridículo do rapazinho magricelas encolhido no balneário, nem do homem que a meio da manhã tinha de fingir ler o jornal enquanto os colegas discutiam à exaustão o lance da grande penalidade. Era um ridículo de homem tímido, pouco confiante, apaixonado, mas normal, preso naqueles olhos sorridentes. Sentiu que devia dizer alguma coisa, reforçar aquele laço subtil que ela lhe estendera e para já tinha a força de um fio de cabelo.
- Sim, isso era óptimo. Ia adorar ir contigo ao cinema, ou ao teatro, ou onde quiseres.
Como se fossem uma entidade independente, mais afoita do que ele, os seus dedos avançaram para o rosto dela, afagaram-lhe ligeiramente a curva do queixo, desviaram dos lábios carnudos um fio de cabelo. Depois pousaram sobre a mão dela, ainda presa ao guarda-chuva, que passou naturalmente para a outra mão, para se libertar e apertar-se na dele.
Almoçaram nesse domingo e o simples facto de se encontrarem fora da rotina do costume já era significativo. Depois, decidiram caminhar. Ela embelezara-se mais do que o costume, os olhos pareciam mais claros debaixo da camada de rímel e os lábios estavam amaciados por um traço de baton. Trazia um vestido de lã que ele não conhecia, e por cima um casaco claro que não era o do costume. Não quis dizer-lhe que preferia vê-la com a roupa de todos os dias, vestida com a graça que arrancava olhares quando entrava a sorrir no restaurante. Ele, pelo contrário, escolhera uma roupa mais casual do que a que usava à semana, mas não se sentia incomodado. Estava tão bem, tão seguro de si mesmo, que demorou a percebeu que fazia um frio de gelo, como se o céu se preparasse para nevar ou para chover muito, e ela tremia dos pés à cabeça. Decidiram ir ao cinema. Quando o filme acabou, ele beijou-a. Depois, ela convidou-o a ir a sua casa. Parecia uma estratégia de sedução. A casa era pequenina como ela, encaixada no último andar de um prédio antigo na zona velha da cidade. Mostrou-lhe as estantes cheias de livros e as edições coleccionadas quase compulsivamente do Livro de Cesário Verde e da Clepsidra de Camilo Pessanha. Propôs-lhe um chá, para se libertarem do frio. Enquanto esperava na cozinha, ele espreitou pela janela que dava para o rio, como se quisesse apreender tudo o que era dela, a começar pela paisagem. Numa tarde, ou numas horas, ficara a saber a que sabiam os lábios dela e confirmara o cheiro do seu cabelo. Sentia-se tonto como se o amor deles se estivesse a transferir para uma zona nova, longe da rotina, do cheiro a fritos, dos almoços apressados, uma zona calma, desconhecida, deliciosa, com aroma a chá de hortelã. Agora via o pano de cozinha pousado sobre o lava-louça, os frisos em renda nas prateleiras dos armários, os envelopes abertos dobrados em cima do cesto da fruta, tudo reminiscências de gestos que ele costumava fazer ou das casas em que ele se tinha sentido amado, a da sua avó, a da sua mãe. Sentaram-se à mesa com o chá no meio deles. Havia uma televisão por cima do armário. Ela ligou-a, pausadamente, como se medisse o sentido do gesto. Era a transmissão de um jogo. Não chegou a sentir-se desiludido.
- Não queres ver isto, pois não?
- Deixa estar.
- Está a acabar. Já agora, queria ver.
Não percebia. Ali estavam eles, apaixonados, com uma mesa de madeira a separá-los, ele com as mãos enroscadas na caneca em vez de as ter no cabelo dela, em vez de estarem como ele esperava. O olhar dela estava colado ao ecrã, mas desta vez parecia pouco atento, mais concentrado num pensamento do que nas imagens tontas que ambos mal podiam ver, de lado. Até que ela se voltou de repente e tinha os olhos embaciados.
- O meu pai deixou a minha mãe quando eu era muito pequenina. Aparecia poucas vezes para me ver. Quando vinha, era como se o coração me saltasse da boca. Ele era louco por futebol, e levava-me a ver jogos. Era sempre isso. Nem circo, nem passeios pelo parque. Só jogos. Parecia não perceber que eu era uma menina, aliás, às vezes parecia nem perceber que eu estava com ele. Ao princípio eu não gostava, mas calava-me. No inverno os assentos estavam gelados, e eu punha as mãos debaixo do rabinho para me aquecer. No fim do jogo, tinha as mãos brancas, todas marcadas do peso do corpo. Havia gente a dizer palavrões nas bancadas. Mas o meu pai falava comigo, explicou-me o que era um fora de jogo, ensinou-me a ler nas entrelinhas das jogadas. Dizia-me essas coisas em voz alta, com a mão por cima do meu ombro e a outra estendida para o relvado, a apontar-me os jogadores talentosos, os lances interessantes. Sentia-me orgulhosa quando o meu pai me falava, porque toda a gente o conhecia e ele cumprimentava toda a gente nas bancadas, mas só falava comigo o tempo todo, e quando a nossa equipa ganhava abraçava-me e sorria-me. Eu sentia-me feliz. Claro que isto era de longe a longe, mas a felicidade enchia-me por muito tempo, com um esforço os pormenores davam para duas ou três semanas de conversas na escola. Um dia ofereceu-me uma camisola do meu tamanho. Foi a única vez que eu tive a certeza que o meu pai pensava em mim. A camisola era mesmo do meu tamanho. Um dia desapareceu, pouco depois soubemos que tinha morrido, já há muito tempo que se sabia que ele tinha uma doença. Nunca mais pus os pés num estádio, mas ficou-me o gosto pelo jogo. A minha mãe diz que tenho o sorriso dele. Mas herdar o sorriso de alguém é como ter uma doença hereditária, não depende de nós, não ajuda nada. Tenho o gosto pelo jogo, e isso foi o que eu quis herdar dele. E o futebol é o que me faz lembrar.
Disse tudo de uma vez, quase sem respirar, e ele ouviu-a. Sentia-se tonto, envergonhado, comovido com a história dela. Apetecia-lhe abraçá-la, consolá-la, apetecia-lhe ver aquele jogo e todos os jogos, até se inteirar. Mas em vez disso as palavras brotaram-lhe contra vontade, arrancadas do fundo:
- Quando eu nasci, os meus pais já tinham uma filha. O meu pai jogou futebol desde miúdo, mas nunca saiu das equipas pequenas. O meu avô foi um grande jogador, talvez te lembres se eu te disser o nome, e todos os meus tios e primos. Há um deles que ainda joga para aí, e o pai dele é treinador, acho eu. O meu pai teve uma lesão. Naquele tempo os médicos não eram como agora, e ninguém se preocupava com o meu pai, já veterano, um caso perdido. Fez muitas operações, por iniciativa própria. Eu era miúdo e ainda me lembro das visitas ao hospital, eu, a minha irmã e a minha mãe, cheios de medo das pragas que ele rogava quando lhe tiravam as ligaduras e estendia a perna e via que estava tão perra como antes. Até que decidiu que eu tinha de jogar futebol. Mas eu nunca tive jeito. Fui criado num bairro, um daqueles bairros da câmara onde as casas todas dão para o mesmo pátio. O meu pai levava-me para fora e tentava ensinar-me a driblar. Mas eu nunca tive jeito, os pés tropeçavam um no outro, caía por cima da bola, rasgava os joelhos. O meu pai ralhava, e eu continuava, quase a chorar, e cada vez era pior, porque não via nada por causa das lágrimas. Outras vezes, tentava pôr-me a jogar com os miúdos do bairro, e ainda era pior. Riam-se de mim e diziam que eu não podia ser filho do meu pai, diziam que a minha irmã jogava melhor do que eu, o que até era verdade. O meu pai acabou por desistir. Resignou-se à ideia de que era um desgraçado, um infeliz dum inválido numa família de irmãos talentosos com filhos dotados. Cresci, tirei um curso, mas sempre foi assim. Não sabia jogar futebol, não sabia ver futebol, ainda não sei. O mundo está cheio de pessoas que parecem achar que eu não sou filho do meu pai. Ainda agora, quando eu vou vê-lo, de longe a longe, o meu pai atira-me à cara com o futebol. Viste o jogo, que achas daquele, perguntas a que eu não sei responder, e a que ele sabe que eu não sei responder, e faz de propósito, para me agredir, para me lembrar.
Ficaram calados, dobrados sobre a extensão das próprias memórias e sobre a dor que saía das confissões do outro. Até que, na televisão, um golo e os gritos nas bancadas os despertaram e os fizeram sorrir. Ele olhou-a, quase na penumbra, porque a luz estava apagada e entretanto o tempo escurecera e começara a chover. Mesmo na sombra, ela ali à sua frente era como um remédio para os dias infelizes, um recomeço. E de repente, foi como tudo se resolvesse. Desejou amá-la, abraçá-la, passar com ela o resto do domingo, mas sentia que tinha outra coisa mais urgente para fazer. Disse-lhe, enquanto a acariciava:
- Preciso de fazer uma coisa hoje. Não te importas?
Acenou que não, com um sorriso húmido, tão terno, que quase o fez ficar. Como que inspirado, ele lembrou-se e perguntou:
- Ainda há algum jogo hoje?
Despediu-se dela. Lá fora continuava frio, com um vento forte que vinha da beira rio, e chovia com força. O carro estava gelado. Sentiu o desconforto dos estofos e lembrou-se do que ela contara sobre os assentos frios das bancadas, e percebeu que a amava. Ligou o rádio e sintonizou uma emissão desportiva. Ela tinha razão. Muitas partidas tinham recomeçado, inclusive a da equipa dela, a da equipa do seu pai. Ia a sorrir, conduzindo devagar por causa do piso molhado, al
heio à voz nervosa do relatador, cheia de inflexões e sobressaltos, embalado por outra cadência, a dos versos que ela possuía em várias edições:

Ingénuo sonhador - as crenças d’oiro
Não as vás derruir, deixa o destino
Levar-te no teu berço de bambino,
Porque podes perder esse tesoiro.

Parou o carro no pátio, onde muitos miúdos estariam àquela hora a jogar à bola, se não chovesse torrencialmente. Correu sem guarda-chuva até à porta, bateu quase em surdina, sentiu os chinelos arrastados da mãe, que abriu sem perguntar quem era e sorriu quando o viu. O velhote estava na sala, às escuras, sentado na poltrona, com um cobertor pelos joelhos. Via-o de perfil, a face iluminada pelo clarão do televisor, e um rádio portátil encostado ao ouvido. Provavelmente estava a assistir a um jogo e a seguir outro pelo relato. Reprimiu o gesto de abanar a cabeça com reprovação. Sentia-se calmo, seguro, parecia-lhe que ainda trazia o perfume dela preso nas roupas, nos dedos, ou o gosto de hortelã nos lábios. Abraçou novamente a mãe, que lhe dizia as coisas tontas do costume, filho, há tanto tempo que não te via, estás todo encharcado, e então o pai voltou-se, viu-o, e ele só disse, suavemente:
- Olá, pai. Então, essa segunda parte?

2 comentários:

  1. Isabel: escrevo-lhe não com a pretensão de comentar qualquer dos seus três textos. Escrevo-lhe somente para saudar "A Gaveta Escondida" por me ter dado a possibilidade de, ao abri-la, poder ler coisas que me encantaram. Mas o mais delicioso é esse "mistério" com que vai abrindo, como se fosse um diário de intimidades, do tempo de crescimento da idade e da escrita, de aprendizagem das palavras... como se fosse um conto que nos vai contando, enredando-nos, tanto ao mais que os belos textos que vai tirando da gaveta. Um prazer e uma "linda" (de bonita, de bela) ideia. Parabéns. Também tenho um blog, " o jardim dos mal encarados" onde gostava de ser mais assíduo e ter a arte de com ele contar uma história como "A Gaveta Escondida". Conto coisas que vou vendo, memórias que vão surgindo, e vazios... Abraço amigo

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    1. Afonso, é exatamente como descreve: vou abrindo a gaveta e eu própria me vou surpreendendo com os textos que (re)descubro (de muitos, sinceramente, já nem me lembrava) e sobretudo com as histórias em redor deles que vou recordando. É bom para lembrarmos que, ficção que sejam, os textos que escrevemos saem das nossas vidas. E é muitíssimo bom que haja pessoas a lê-los, como o Afonso. Seja bem-vindo sempre que queira e... lá vou eu espreitar o seu jardim. Abraço amigo

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